A toxina do baiacu pode ajudar no tratamento do câncer
Com mil vezes a potência do cianeto, a tetrodotoxina é uma das neurotoxinas mais mortais do mundo natural.
É encontrado em certas espécies de baiacu e, para o comprador (licenciado) certo, um único peixe pode custar mais de US $ 100.
Um estudo recente publicado na Angewandte Chemie descreve como, pela primeira vez, esse potente produto químico foi sintetizado em laboratório para que possa ser estudado com a esperança de fornecer uma nova forma de alívio da dor semelhante ao opiáceo para quem sofre de câncer.
De onde vem essa Neurotoxina?
A tetrodotoxina vem de bactérias como Pseudoalteromonas , Pseudomonas e Vibrio , que vivem dentro de animais.
Foi encontrado nos órgãos de muitos animais marinhos, incluindo polvo de anel azul, caracóis da lua, peixes-sol do oceano e peixes-porco, mas talvez o exemplo mais famoso seja o baiacu.
No Japão, o baiacu é aclamado como uma iguaria sob o nome fugu, embora, se preparado de forma inadequada, possa ser fatal para quem se atreve a jantar.
Apenas uma dose de 1 miligrama de tetrodotoxina é suficiente para matar uma pessoa, e é por isso que os chefs precisam ser especialmente treinados para aparar órgãos como fígado, olhos e ovários que contêm as maiores quantidades.
Existem variedades cultivadas não tóxicas de carne de fugu, mas verdadeiros conhecedores cobiçam o perigo e a habilidade envolvidos na colheita de populações selvagens, como torafugu, ou baiacu-tigre ( Takifugu rubripes) , que é a espécie “comestível” de maior prestígio e potencialmente venenosa.
O que ela faz?
A tetrodotoxina bloqueia os impulsos nervosos no corpo, bloqueando os canais de sódio dependentes de voltagem em nossas células.
Ok, parece grego mas não é.
Ao fazer isso, impede que o cérebro seja capaz de enviar mensagens aos nossos músculos. Ou seja, comer, injetar ou inalar tetrodotoxina pode levar à paralisia, dificuldade em respirar e até a morte.
Para não correr riscos, a carne fugu não é permitida na União Europeia.
E nos países onde é consumida, leis rigorosas determinam quem tem permissão para comprar e vender produtos de baiacu para consumo. Mesmo com essas sanções, ainda há casos de envenenamento e mortes por causa disso a cada ano.
O lado bom do veneno
Como diz o ditado popular:
“ A diferença entre o remédio e o veneno é a dose”
Em doses muito baixas, acredita-se que os efeitos bloqueadores dos nervos da tetrodotoxina possam ser usados para fornecer analgesia eficaz para pessoas que sofrem de dor intensa, como a causada por alguns tratamentos para o câncer.
O mecanismo exato para isso, no entanto, ainda está sendo examinado, o que exigiu uma maneira barata, simples e confiável de suprir a toxina potente para investigação.
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Infelizmente para os pesquisadores, a tetrodotoxina tem uma estrutura incomum e complexa, semelhante a uma gaiola, que a torna um assunto complicado para cozinhar do zero.
Seções menores da toxina já tinham sidos sintetizadas em estudos anteriores. Mas esta nova pesquisa de Yokoshima e sua equipe é a primeira a obter a síntese total.
Como foi feito o processo?
Trabalhando na Escola de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade de Nagoya, no Japão, a equipe de pesquisadores estabeleceu um novo caminho químico para replicar toda a estrutura da neurotoxina, tudo sem a necessidade de uma visita ao aquário.
O passo chave para desbloquear a replicação completa foi uma reação de Diels-Alder, um tipo de reação química simples para conseguir alguns compostos.
A reação foi feita entre um composto de partida e um componente contendo silício.
O que permitiu aos pesquisadores alcançar uma estrutura química que pudesse se ligar a grupos hidroxi. E isso é um passo vital na recriação da gaiola complexa da neurotoxina como estrutura.
Mesmo se você não entendeu muito do que foi dito acima, saiba que esse novo processo de reprodução de tetrodotoxina em um balão é um grande passo para desbloquear as propriedades da poderosa neurotoxina.
Outrora uma iguaria infame em restaurantes de sushi mais ousados. Mas o baiacu agora pode estar no centro de proporcionar alívio seguro e eficaz da dor aos pacientes em todo o mundo, então talvez seja hora de deixá-los fora do menu do sashimi?
O mais importante é ver como os peixes ainda tem muita coisa boa para proporcionar para nós. E olha que o mar não foi explorado nem 10%.
Temos muito o que aprender ainda.
