Rios de água quente ameaçam uma grande parte da geleira na Antártica
Uma das maiores e mais instáveis geleiras da Antártica está deslizando para o oceano. Isso se dá, em grande parte, de rios escondidos de água quente que lubrificam sua barriga, mais do que nunca na era da mudança climática.
Os investigadores sabem como são esses canais invisíveis.
Usando equipamentos que podem medir flutuações na gravidade, radar e ondas sísmicas, os cientistas foram capazes de mapear exatamente onde esses canais de derretimento de geleiras cortam através do fundo do mar.
“Foi fantástico poder mapear os canais e o sistema de cavidades escondidos sob a plataforma de gelo; eles são mais profundos do que o esperado, alguns têm mais de 800 metros de profundidade”, o pesquisador principal do estudo Tom Jordan, um aerogeofísico da British Antarctic Survey, disse em um comunicado.
“Eles formam o elo cítrico e a geleira.” completou.
A geleira Thwaites é um vasto tijolo de gelo que flui para a baía de Pine Island, no oeste da Antártica.
Se você decolar em um avião de EI Paso, Texas, e voar para o sul, através de cerca de 900 Km do oeste do México e 9.200 Km do Oceano Pacífico, você o veria pela janela como uma branca extensão com penhascos íngremes onde encontraria águas abertas.
Thwaites moveu-se em direção ao oceano toda a sua existência, mas essa taxa de movimento aumentou cinco vezes nos últimos 30 anos, ao ponto em que a neve na parte de trás da geleira não pode mais reabastecer o gelo perdido na frente.
Esse gelo perdido contribuiu para cerca de 4% do aumento global do nível durante essas três décadas. Se todo a geleira entrasse em colapso no oceano, os níveis do mar aumentariam cerca de 65 centímetros. Este aumento dramático devastaria as atuais linhas costeiras.
Aumento global no fundo do mar
Os cientistas estão tentando entender a dinâmica que impulsiona o movimento de Thwaites em direção ao mar e a rapidez que estão acelerando o derretimento do gelo.
Essa nova pesquisa, publicada no dia 9 de Setembro no Cryosphere jornal, combinou várias técnicas de detecção sobre a geleira para construir mapas detalhados desses canais ocultos.
Um método importante: detectar diretamente a gravidade do fundo do mar.
A ação acontece onde o fundo do mar, água e gelo no fundo da geleira se encontram. O gelo é menos denso e, portanto, mais leve do que a água e essa diferença de massa faz com que a gravidade flutue de uma parte da geleira para a outra. Instrumentos sensíveis em barcos ou aviões voando acima podem capturar essas flutuações, revelando detalhes escondidos bem abaixo da superfície do gelo.
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Ao combinar os dados da gravidade com as medições de radar e sísmicas feitas na superfície do gelo, os cientistas criaram a descrição mais completa até então daquele mundo oculto, onde a água quente que atinge o fundo da geleira, sua “batimetria” em linguagem científica, que significa (a medição da profundidade dos oceanos).
“Os resultados confirmam que um grande canal marinho com mais de 800 metros de profundidade se estende dezenas de km até à frente da geleira Thwaites”, escreveram os pesquisadores no estudo.
“Enquanto as plataformas de gelo adjacentes são sustentadas por uma batimetria mais complexa’’ completam.
Pequenas descobertas que leva a grandes resultados
Uma revelação importante: O fundo do gelo mais jovem se conforma firmemente ao fundo do mar irregular, enquanto as plataformas de gelo mais antigas (agora, blocos de gelo anteriores a 1993) tendem a ter fundos mais planos.
Detalhes como esse ajudarão os cientistas a refinar os modelos de como o gelo se move no fundo do oceano.
“Esta pesquisa preencheu uma lacuna de dados críticos”, disse Kelly Hogan, uma Geofísica Marinha da British Antarctic Survey.
“Juntos, os novos mapas do fundo do mar costeiro e os mapas das cavidades rastreiam os canais profundos por mais de 100 km até onde o geleira fica no leito.”
“Pela primeira vez, temos uma visão clara dos caminhos ao longo das quais a água quente pode atingir a parte inferior do geleira, fazendo com que derreta e contribua para o aumento global do nível do mar.” completou Kelly.
Fonte: Live Science